Marcelo Gleiser traz “humanocentrismo” para a Reunião Anual

Já virou tradição. No segundo dia da Reunião Anual da Fermentec os assuntos sobre fermentação, indústria e agrícola são interrompidos para dar espaço a reflexões sobre o comportamento humano. Após as participações nas últimas edições do professor Gretz, Leila Navarro e professor Marins, o convidado desta vez foi Marcelo Gleiser, físico, astrônomo, escritor e professor do Dartmouth College, dos Estados Unidos. Marcelo Gleiser é colunista do jornal Folha de S. Paulo e já apresentou diversos programas na televisão, entre eles National Geographic, Discovery Channel e um quadro no Fantástico.

Marcelo Gleiser: o ser humano deve ter uma nova relação com o planeta

Em sua palestra, Gleiser abordou um dos principais questionamentos da humanidade. Afinal, quem somos? Após apresentar o pensamento de Platão, Aristóteles e as teorias de Kepler, Copérnico e Galileu Galilei sobre a criação do universo, o professor afirmou que a ciência põe o homem de volta ao centro do universo, o que ele chama de “humanocentrismo”. Assim, o ser humano se encontra diante de uma nova ética global e precisa adotar uma nova relação com o planeta, sobretudo na questão ambiental. Para o professor, a Reunião Anual foi uma grande oportunidade para compartilhar conhecimento com uma indústria tão crucial para o Brasil “Espero que a inovação tecnológica da exploração da cana de açúcar continue sendo prioridade para que, juntos, possamos não só prosseguir com a emancipação econômica de nosso país, mas também com a preservação ecológica de nosso meio ambiente e de nosso planeta”, afirmou Gleiser.

Pesquisas: análises, quantificações e determinações

Claudemir Bernardino mostrou comparou os métodos da prensa e do digestor

De volta para os assuntos do setor na Reunião Anual, algumas palestras abordaram a importância da tecnologia e metodologias para as análises de amostras. Claudemir Bernardino, da Fermentec, mostrou comparações entre as metodologias da prensa e do digestor para a determinação dos índices de ART, ferramenta importante para o pagamento de cana. Segundo Claudemir os dois métodos sofreram alterações ao longo dos anos e a metodologia da prensa, a partir de 2001, tem apresentado resultados de POL % cana e fibra % cana muito próximos aos obtidos com o digestor. Para se chegar a esta conclusão foram necessários inúmeros testes por causa da variação dos índices de impureza vegetal e mineral e valores de open cell. Essas variáveis afetam significativamente os resultados, principalmente com relação ao tipo de cana utilizada (com queima, sem queima, corte manual ou colheita mecanizada).

Eduardo Borges falou sobre a substituição de reagentes tóxicos na determinação de sacarídeos

Já Eduardo Borges apresentou a melhora na determinação de polissacarídeo total, com a substituição de reagente tóxico, e resultados da determinação de oligossacarídeos em caldo de cana. Em relação à análise de polissacarídeo totais, Borges apresentou um trabalho mostrando a substituição do fenol, substância tóxica e cancerígena, pelo ácido cítrico sem a necessidade de modificar o procedimento analítico ou fazer o investimento em equipamentos e reagentes caros. Já os oligossacarídeos foram determinados pelo método HPAEC-PAD e foi demonstrado que a concentração destas substâncias é maior em caldos com maior quantidade de ponta e palha e também em caldos com alta contaminação por microrganismos. Os oligossacarídeos podem causar problemas na qualidade do açúcar e interferir na análise de ART pelo método de Eynon-Lane e Somogyi-Nelson, subestimando os cálculos de rendimento e balanço do açúcar ou ainda superestimando a concentração de açúcares residuais no vinho. “A determinação de oligossacarídeos, assim como a de manitol, é uma importante ferramenta para o controle da qualidade da matéria-prima, pois é possível correlacionar essas substâncias com cana deteriorada e/ou com a concentração de dextrana”, explicou Eduardo Borges.

Fernando Henrique Giometti pesquisa a otimização na aplicação de dispersantes

Os objetos de estudos de Fernando Henrique C. Giometti são os dispersantes. Segundo ele, é preciso uma aplicação mais otimizada para prevenir a formação de espuma. Isso porque a interação entre linhagem de levedura e velocidade de fermentação pode explicar porque muitas vezes é necessário complementar a aplicação de dispersantes com antiespumantes. A espuma reduz o aproveitamento da capacidade da dorna, gera dificuldades operacionais como incrustações, problemas na assepsia e aumento da probabilidade de contaminação na dorna, tudo isso reduz o rendimento fermentativo. Além disso, aumenta o consumo de insumos na usina, como os antiespumantes, elevando os custos de produção do etanol.