Em 2013 a Reunião de Meio de Safra deu lugar à Reunião de Início de Safra. A alteração foi feita para que as tomadas de decisão e implantação de novas tecnologias sejam feitas logo no começo da safra para aumentar a eficácia dos processos. Para aumentar essa eficiência as palestras tiveram alguns focos importantes: apresentação dos resultados dos clientes, que em muitos casos superaram a média nacional, novas tecnologias para a fermentação, desafios após mudanças no setor, como a mecanização e o que move todas estas transformações: o ser humano, com a palestra de Carlos Andriani da Diagrama Consultoria Empresarial.
Inovação e realização humana no trabalho
Além da mudança de data, a Reunião de Início de Safra também inovou em suas palestras. Esta edição começou com motivação por meio da palestra de Carlos Andriani da consultoria empresarial Diagrama. Andriani destacou a importância da auto-realização para a criatividade e ninguém se realiza sem colocar a outra pessoa em primeiro plano. “A pessoa egoíca, que não pensa no outro, é estressada e angustiada”, afirma Andriani. Quando há um modelo autoritário as pessoas estão adaptadas e seguem o superior, prejudicando o desenvolvimento da criatividade. Segundo ele, o ser humano é o único capaz de fazer escolhas e se o lado humano não foi decifrado é o lado animal que manda: o impulso.
Safra 2012/13 teve aumento de produtividade
As médias das usinas e destilarias clientes Fermentec superaram o balanço geral da região centro sul em diversos parâmetros na comparação entre as safras 2010/11 e 2011/12. A cana moída teve aumento de 10,5% na safra passada em relação a anterior. 38% das usinas tiveram a moagem entre 1,5 e 2,4 milhões de toneladas. Quanto à produtividade houve uma evolução muito grande, segundo Claudemir Bernardino, passando de 74 toneladas por hectare em 2011 para 77 ton/ha em 2012. No corte, carregamento e transporte houve aumento de 81% para 85% na cana picada. A mecanização também não para de crescer. Hoje 64% dos clientes estão na faixa entre 85% e 100% da colheita mecanizada.
Variações ambientais alteram desempenho das usinas
Rudimar Cherubin complementou a palestra de Claudemir Bernardino na Reunião de Início de Safra mostrando a importância de se trabalhar de acordo com as características de cada região do Brasil. Foram analisados os seguintes parâmetros: ambiente, qualidade, tecnologia e produtividade.
O Paraná teve na safra 2012/13 40% a mais de chuva da média dos outros clientes, é uma região muito chuvosa. Muita dextrana acima da média e o tempo de entrega elevado. Proporção de cana picada foi abaixo da média e a impureza vegetal é baixa por causa da grande quantidade de cana queimada.
Em Minas Gerais e Goiás a chuva foi em bem menor quantidade que as outras regiões. O solo, que conserva bem a unidade, favorece a baixa impureza. Tem AR maior em virtude das altas temperaturas. Indicadores de deterioração são ótimos e a mecanização é elevada.
Mato Grosso do Sul tem deterioração elevada e muitas chuvas, por isso as grandes paradas são comuns e o solo mais argiloso. Já o Mato Grosso tem pouca chuva e lençol freático alto, o que dificulta o aparecimento de impurezas. Cana picada fica abaixo da média, aumentando o tempo de entrega.
Estado de São Paulo
O Estado de São Paulo também apresenta grandes variações de acordo com a região:
Região de Itapira: Pouca chuva, muita impureza mineral e deterioração de cana acima da média.
Região de Ribeirão Preto: Pouca chuva, impureza vegetal extremamente elevada. AR extremamente baixa e quantidade de cana picada alta.
Região de Lins: Locais com indicadores mais próximos da média. Tempo de entrega muito baixo, índice de cana picada muito alto. Deterioração de cana abaixo da média, região com muita mecanização. Impureza mineral baixa. É o grupo mais homogêneo.
Região de Sandovalina: Muita chuva. Impurezas mineral e vegetal altas. Solos argilosos e deterioração mais baixa.
As regiões de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso apresentam uma cana com altíssima produtividade e a quantidade de ART por hectare é extremamente alta. Já os locais mais chuvosos possuem maior impureza mineral, por isso o Paraná enfrenta grandes quantidades por causa de chuva.
“A unidade do Paraná não vai ter a mesma cana de Goiás. Pode ser colocada uma variação dependendo da região em que se está trabalhando. Por isso é fundamental ter uma avaliação precisa de cada região para tomar as decisões de acordo com as características”, afirmou Rudimar Cherubin.
Ácido aconítico, cálcio e indicator value: novos parâmetros de qualidade do açúcar
O ácido aconítico é o quarto principal componente do caldo de cana, depois da sacarose, glicose e frutose e tem maior concentração nas folhas e pontas. “Com o avanço da colheita mecanizada aumentou a entrada de palha no processo e, consequentemente, mais ácido”, afirmou Eder Silvestrini. A cana limpa, sem pontas, também apresentou um baixo índice de indicator value. O ácido aconítico, indicator value e o cálcio são responsáveis pela formação de flocos em bebidas por isso são parâmetros importantes, principalmente para a indústria de refrigerantes. Os três indicadores foram analisados nas regiões Nordeste, Centro Oeste e Sudeste.
Digestor quente/frio garante a recuperação do açúcar
Armando Gameiro Junior mostrou as vantagens do digestor quente/frio para ser utilizado na safra 2031/14. O equipamento reduz pela metade o tempo de análise, tem menor inversão da sacarose e garante a total recuperação dos açúcares. Mesmo trabalhando com open cell acima de 90 não tem sido suficiente para a recuperação de todo o açúcar. “Para evitar problemas com a quantificação do RTC, a Fermentec sugere o uso do digestor quente/frio e o redesfibrador África do Sul para a extração total do açúcar. O redesfibrador garante o open cell acima de 92. Sete clientes utilizam o redesfibrador. Como alternativa ao redesfibrador existe o digestor quente/frio patenteado pela Fermentec”, explicou Gameiro.
O equipamento é composto pelo digestor, banho quente, banho frio, uma adaptação ao copo e um controlador de temperatura e faz todo o procedimento. A temperatura abaixo de 30 graus garante a extração total do açúcar.
Cromatografia permite avaliação mais realista da fermentação
A cromatografia é a separação dos compostos de uma mistura complexa para fazer a quantificação. Há dois tipos de cromatografia: gasosa, líquida. Para a determinação do açúcar o detector iônico é o mais vantajoso porque tem maior sensibilidade (ideal para análise de perdas), é seletivo para carboidratos, tem maior durabilidade da coluna, menor tempo de análise (útil para controle de processo).
A Fermentec já utiliza o cromatógrafo iônico desde 1992 e recomenda sua utilização na usina para uma avaliação mais realista da fermentação. Facilita o gerenciamento das análises, diminui o fator humano nos resultados, melhora a rastreabilidade dos resultados, permite melhor monitoramento dos pontos de perda, avaliação mais realista da fermentação, quantificação dos açúcares reais da cana, pois não sofre interferência de substâncias infermentescíveis presentes nas folhas e pode aumentar a produção de etanol mediante monitoramento do final da fermentação.
Com o cromatógrafo é possível controlar os pontos de perda do açúcar, indicadores de contaminantes e perdas, além do final da fermentação. A análise é mais rápida, menos trabalhosa e mais frequente o que permite tomada de decisões em menos tempo. Antes, o fim da fermentação era determinado quando o brix se repetia, depois era o fim do açúcar na dorna. Com isso a economia de tempo chegou a quase duas horas.” Não tinha motivo para deixar a levedura na dorna não tendo açúcar para ser fermentado”, afirmou Eduardo Borges.
Mosto pode substituir meio sintético
Para gerenciar o processo são necessárias ferramentas adequadas. As destilarias têm laboratórios de microbiologia para identificar fatores que afetam o desempenho operacional, otimizar o uso de insumos, reduzir custos e avaliar a qualidade da matéria-prima. Segue um breve histórico da evolução da tecnologia ao longo dos anos.
1977 – introdução da microscopia na indústria;
1981 – tecnologia de contagem de bactérias vivas;
1982 – substituição do azul de metileno pelo corante eletrosina;
1991 – cariotipagem em Montpellier, França;
1993 – teste rápido para a escolha do melhor antibiótico;
1995 – amostradores com seringas;
1996 – análises microbiológicas do açúcar;
2007 – microscopia de contraste de fases, sem corantes;
Todas essas mudanças permitiram o aumento de 80% para 92% no rendimento e redução no tempo de fermentação de 22 horas para 10 horas.
O teste de sensibilidade, descoberto em 1973, permite identificar em apenas seis horas o melhor antibiótico para ser aplicado na fermentação naquele momento. O gerenciamento do antibiótico é muito importante em uma unidade. Uma destilaria média utiliza cerca de 840 quilos a um custo de R$ 153 mil. Entre os clientes Fermentec é um gerenciamento de R$ 9 milhões.
“Por isso estamos propondo a substituição do meio sintético pelo mosto da unidade industrial. As adaptações que foram realizadas proporcionam chegar a um mesmo resultado com análises feitas por analistas diferentes, ou seja, é um método bastante confiável”, explicou Fernando Henrique C. Giometti.
Vantagens: resultado mais próximo com a realidade de cada usina, já que todas as interferências no mosto vão causar impacto na dorna de fermentação. Redução de custo e tempo porque elimina o reagente sintético e seu tempo de preparo.
Multiplicação de leveduras exige uma série de cuidados
Para aumentar a massa de leveduras é preciso alta concentração de oxigênio. Até que ponto favorecer a respiração e a fermentação? A concentração de ART na respiração é baixa. Por isso, se busca um equilíbrio entre as duas etapas. Pelo método antigo o risco de contaminação por outra levedura era elevado, o tempo para a multiplicação era maior, exigência de qualificação de pessoas, custo, inúmeras paradas da moenda, maior consumo de vapor, consumo de antibióticos e maior probabilidade de contaminação.
Como é atualmente? Leveduras selecionadas de forma desidratada, que garante rapidez e segurança na propagação (pode ser feita em 24 horas), estabilidade na etapa de propagação, redução de contaminação por leveduras, redução no número e tempo de parada da moenda, menor consumo de vapor e bagaço, aumento do rendimento geral da destilaria e melhor planejamento de corte, colheita e transporte. A multiplicação deve ser planejada. Quantos quilos de levedura desidratada cada unidade usa? O número só aumenta ano a ano.
Fatores decisivos no sucesso na propagação? Disponibilidade de ART para propagar, tempo para iniciar a centrifugação, custo fixo da unidade, estoque de bagaço, nível de segurança desejado. Em relação aos nutrientes, quanto maior o fornecimento de nitrogênio e fósforo maior a propagação. O nutriente para mel deve ser diferente para o caldo por causa da concentração de nutrientes já existentes em cada um. Deve se fazer a análise de nutrientes e complementar o necessário.
“A propagação é o início de uma vida, é um momento crítico. É fundamental utilizar água de excelente qualidade, higienizar as instalações, hidratar a levedura só no momento do uso, controlar a temperatura, evitar afogar o fermento (encher de açúcar), evitar cortes desnecessários. Além disso, a dosagem de antibióticos é essencial, principalmente nas personalizadas que devem ser feitas junto com as selecionadas”, concluiu Rudimar Cherubin.
Cariotipagem permite a seleção de leveduras personalizadas
Mário Lúcio Lopes mostrou a eficiência da cariotipagem em relação à genotipagem para a seleção de leveduras personalizadas. Foram mais de 4 mil leveduras identificadas. Em todas as unidades as leveduras personalizadas permaneceram do início ao fim do processo.
Na dominância as personalizadas chegaram a 100%. Tomaram conta e não deram espaço as leveduras selvagens. As leveduras personalizadas têm maior permanência e dominância nas fermentações, reduz a contaminação por bactérias e leveduras selvagens, apresenta maior estabilidade do processo, maior produtividade e rendimento e possibilita economia com insumos e água. Um mix de leveduras reduz a chance de contaminação.“Tivemos uma grande evolução no número de leveduras personalizadas. Em 2011 eram 2. Em 2012 subiu para 6. Agora em 2013 teremos onze. Essa seleção só foi possível com o trabalho de monitoramento junto ao processo com a cariotipagem”, explicou Mário Lúcio Lopes.
A cariotipagem faz a análise de cromossomos intactos, de 200 mil a 2 milhões de bases. Já a genotipagem analisa pequenas sequências de DNA das leveduras, de 500 a 5 mil bases. Por isso na cariotipagem há a visão do todo. Na genotipagem a visão é pontual, nem todos os cromossomos são analisados, somente fragmentos. Por isso esse método possui alguns riscos: por não detectar as leveduras variantes são menores as chances de selecionar leveduras personalizadas e identificar as selvagens.
Cana crua e o aumento do ácido aconítico
O aumento da colheita mecanizada trouxe mais impurezas vegetais para o processo na usina. Isso favoreceu também a entrada do ácido aconítico, o quarto principal componente da cana. O ácido aconítico apresenta diversos impactos no processo, como corrosão de equipamentos, maior uso de insumos, estresse na levedura, inversão e possível destruição de açúcares redutores, o que diminui o rendimento industrial. Os sais do ácido aconítico, com origem na sua neutralização durante processo de caleagem, aumentam as incrustações nos aquecedores e, principalmente, na última caixa de evaporação, provocando dificuldades operacionais. Tudo isso interfere na qualidade do açúcar.
Segundo Osmar Parazzi, o trabalho para minimizar estes impactos começa na agrícola, buscando a menor quantidade de impurezas vegetais possíveis. Na indústria, os pontos de atuação ficam por conta da limpeza a seco e cuidados operacionais (menor uso de ácido no tratamento do levedo, por exemplo).
Confira as fotos da Reunião de Início de Safra Fermentec 2013
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