Por Thierry Couto do BENRI
As crescentes preocupações com as mudanças climáticas e com as demais causas socioambientais têm feito o termo ESG (ambiental, social e governança em inglês) ganhar cada vez mais espaço na mídia e no mundo empresarial. Progressivamente, mais empresas têm procurado maneiras não só de melhorar suas práticas e políticas sob a ótica de ESG como também de divulgar e de ser reconhecida por elas. Nesse sentido, têm surgido cada vez mais certificações e avaliações de ESG para diversos tipos de setores.
No Brasil, falando especificamente sobre o setor sucroenergético, o programa RenovaBio tem proporcionado parte desse reconhecimento, através dos CBIOS, e ainda tem se mostrado como uma grande vitrine de eficiência ambiental para as unidades que participam do programa. Segundo dados da ANP, do dia 26 de junho de 2021 existiam 249 unidades produtoras de etanol hidratado certificadas no programa RenovaBio, número bastante significativo em relação a outras iniciativas voluntárias relacionadas à emissão de gases de efeito estufa (GEE) e demais aspectos socioambientais. O padrão Bonsucro, por exemplo, na mesma data apresentava 73 unidades certificadas. Essa grande quantidade de unidades adeptas ao RenovaBio garante maior divulgação de boas práticas pelas usinas participantes e, consequentemente, maior reconhecimento delas pelas partes interessadas.
Na prática, a nota de eficiência energético-ambiental avaliada no programa leva em consideração, além das eficiências operacionais das unidades avaliadas, a intensidade de carbono da produção de biocombustível das mesmas, de modo que é possível inferir quais unidades, do ponto de vista de emissão de GEE, mais contribuem, relativamente, para a descarbonização da matriz energética brasileira.
Das 249 unidades certificadas, a maioria delas (55%) apresenta uma nota superior à média do programa de 59,92 gCO2eq/MJ. Se classificarmos essas unidades em 12 intervalos de nota de eficiência, conforme a Figura 1 abaixo, podemos perceber que apenas sete unidades, isto é, cerca de 3%, estão entre as mais eficientes com uma nota superior à 68,72 gCO2eq/MJ.
Não há dúvidas de que as unidades com as maiores notas no RenovaBio são relativamente mais eficientes que as outras nos aspectos ambientais e operacionais, considerados no programa. Traçando o perfil dessas unidades, notamos que elas usam os insumos de forma mais eficiente e dão preferência aos menos danosos ao meio ambiente. Para exemplificar, mantendo a eficiência operacional contínua, uma redução no uso de fertilizantes sintéticos ou do consumo de diesel na fase agrícola entre 10 e 15%, eleva a nota de eficiência energética de até 2%. Como, de acordo com a Figura 1, as diferenças entre as notas das unidades são percentualmente pequenas, são essas reduções ou substituições de insumos que separam as unidades mais eficientes, energeticamente e ambientalmente falando, das demais unidades.
Além disso, outro fator fundamental do programa, relacionado à nota de eficiência energético-ambiental, que distingue as usinas mais eficientes das outras, é o controle dos dados de produção, tanto de biomassa própria, quanto de fornecedores. A diferença na nota utilizando o perfil de dados primários em vez de dados padrão pode chegar em mais de 25%.
Nesse sentido, reconhecendo esses fatos e com o intuito de incentivar o aumento da eficiência do setor de biocombustíveis, o BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento) criou, neste ano, uma linha de crédito específica para o RenovaBio, cujas condições estão atreladas, justamente, ao aumento na nota de eficiência das unidades solicitantes e certificadas no programa.
Sendo assim, a participação no programa RenovaBio permite às unidades certificadas não só o reconhecimento pela redução das emissões de GEE, através dos créditos de carbono e linhas de financiamento, mas também que elas comprovem e nivelem os seus compromissos socioambientais junto à sociedade.
O BENRI é patrocinador do Webmeeting Fermentec Reunião Anual 2021