Automação, robôs, ciência de dados e algoritmos que fazem análises complexas em poucos segundos. As pesquisas se desenvolvem de forma exponencial e coisas que antes eram consideradas inacreditáveis já são uma realidade. Carne sem abate do boi, ovo sem galinha, leite sem vaca. Uma empresa varejista é capaz de descobrir a gravidez de uma mulher antes de seu marido por meio dos algoritmos. Organizações de todos os segmentos terão que se adaptar a este cenário de forma rápida e definitiva para sobreviverem. E com o setor sucroenergético, responsável por suprir necessidades tão essenciais no dia a dia das pessoas, como energia e alimentação, não será diferente. Chegou a hora da usina 4.0, da indústria 4.0 e do laboratório 4.0.
A Reunião Anual da Fermentec chegou em 2018 ao marco de 40 anos. Reuniu em Ribeirão Preto mais de 350 participantes e 22 expositores. Todos puderam conferir a vanguarda do desenvolvimento tecnológico e os caminhos para chegar ao nível 4.0, para ganhar competitividade e permanecer no mercado. “É um momento de disrupção, de transformação”, sentenciou o presidente da Fermentec, Henrique Amorim Neto, na abertura do evento. Para mostrar que a Fermentec já está alinhada com esta nova ordem, Amorim fez o anúncio do lançamento do GAOA, o sistema de Gestão Avançada de Operação Assistida. Esta plataforma processará dados dos clientes em tempo real por meio de inteligência artificial em que o próprio algoritmo vai transmitir as informações para os gestores tomarem decisões com muito mais rapidez. Henrique Neto lembrou como esses processos automatizados estão eliminando a ação humana em muitas atividades e, por isso, a qualificação profissional terá um papel cada vez maior.
Seguindo a mesma linha, José Tomé, fundador da AgTech Garage, um hub de startups do agronegócio instalado em Piracicaba, mostrou como a forma de fazer negócios mudou em pouco tempo, de três anos para cá. Segundo ele, a automação de processos no campo e na indústria ligada ao agronegócio tem reduzido os custos. “Startups surgem no agronegócio a todo instante. A inovação acontece em diversos lugares e sua dinâmica agora é totalmente diferente. Velocidade, energia, engajamento, propensão ao risco e cultura de inovação são as novas ordens em um mundo com mudanças exponenciais”, afirmou Tomé.
A tecnologia no canavial
Ronan Campos, da empresa IDGeo, mostrou como funciona o programa Cana Viva, um sistema de mapeamento e diagnóstico das interferências produtivas no canavial. Todo o sensoriamento é feito por satélite e com ele é possível identificar todas as reações da cana. Assim, todo o canavial é transformado em dados, que são apresentados por meio de um dashboard com gráficos, mapas e todas as informações referentes às plantas “O Cana Viva busca antecipar diagnósticos para trazer maior agilidade e assertividade na gestão de manejos, proporcionando redução de custos e otimização da produção agrícola”, explicou Campos.
Outra solução que vem crescendo muito no Brasil e no mundo para melhorar a saúde da cana é o controle biológico. Combater as pragas da lavoura é um dos grandes desafios do agronegócio, incluindo neste quadro os canaviais. De acordo com Luciano Olmos Zappelini, da Koppert do Brasil, quatro milhões de hectares de cana no Brasil são tratados anualmente com controle biológico. Hoje, a participação do controle biológico é responsável por 2% do mercado de defensivos. Nos últimos cinco anos houve um aumento expressivo de registros deste tipo de produto no Ministério da Agricultura, o que mostra o grande potencial de crescimento na utilização destes defensivos. As soluções podem evitar a proliferação da cigarrinha, broca, sphenophorus, entre outros. Zappelini também apresentou um equipamento que mede a umidade e a temperatura do canavial, o que permite a aplicação dos produtos do momento certo para garantir a eficácia do tratamento “Se não houvesse a aplicação de nenhum defensivo, nós só consumiríamos 30% dos alimentos produzidos no mundo, segundo a FAO. Por isso, é tão importante fazer esse controle de pragas de maneira correta e assertiva”, concluiu Zappelini.
Lançamento do OleoLev®
Com o OleoLev® é possível produzir biodiesel e antiespumantes a partir da vinhaça. A pesquisadora da Fermentec, Silene Paulillo, trouxe 11 leveduras da Universidade do Minho, de Portugal. Todas foram avaliadas e a que mostrou melhor performance foi a FT2519L. Em oito horas, essa levedura neutralizou o pH da vinhaça, teve crescimento de 35%, reduziu a quantidade de ácidos orgânicos em 93%. A redução do potencial poluente foi de 80% da DBO da vinhaça. Mário Lúcio Lopes, que fez a apresentou do trabalho na Reunião, revelou o grande potencial financeiro desta nova tecnologia. Enquanto a vinhaça tradicional é capaz de produzir 4 milhões de litros de óleo, esse número passa para 14 milhões com a levedura. Os estudos foram feitos em parceria com a Universidade do Minho e a JW e a próxima etapa será o teste em escala piloto.
Teste em planta de demonstração da tecnologia StarchCane®
A Fermentec tem clientes no Canadá e Estados Unidos que produzem etanol de milho e há alguns anos começou a desenvolver tecnologias para integrar esse tipo de produção em processo paralelo à utilização do caldo de cana. O resultado deste trabalho foi a tecnologia StarchCane, único processo no mundo que fermenta o milho com reciclo de leveduras. Este ano o projeto avançou com um teste em uma planta de demonstração na unidade do Senai, em Sertãozinho, SP. Foi feita a adaptação da planta de etanol de cana para o milho, superando as dificuldades que apareceram “Os resultados foram compatíveis com as expectativas. A fermentação foi mais rápida em relação ao etanol de cana (15-25 horas), as leveduras consumiram todo o açúcar, a contaminação foi facilmente controlada e o DDGS, subproduto utilizado como matéria-prima para ração animal, apresentou alto índice proteico”, afirmou Alexandre Godoy, que coordena o desenvolvimento do StarchCane®.
Gestão das amostras
O investimento em tecnologia para fazer análises laboratoriais é importante, mas a gestão deste processo é fundamental. Qual é a real necessidade de uma determinada análise? Qual é a frequência ideal para a análise possibilitar uma tomada de decisão? Qual é o histórico do desempenho operacional de um determinado setor de produção? Qual será o mix de produção? De acordo com Claudemir Bernardino, responder a esses questionamentos é essencial para otimizar a frequência e os custos das análises. A implementação dos processos otimizados libera o colaborador para realizar outras atividades e aumenta a eficiência das análises.
Fermentação
Rudimar Cherubin fez um balanço de como está sendo a performance das leveduras personalizadas e termotolerantes na safra. É preciso criar estratégias para se adaptar à mudança de mix, que está cada vez mais alcooleiro e não contar com a sorte e torcer para que uma levedura boa entre no processo. Um terço dos clientes Fermentec trabalham com leveduras personalizadas e nesta safra já foram produzidos 2,3 bilhões de litros de etanol utilizando a levedura personalizada. Há 25 unidades usando leveduras personalizadas e termotolerantes. Cherubin apresentou o exemplo de uma usina que passou a usar leveduras termotolerantes. Nesta unidade, a produção de etanol passou de 35 milhões de metros cúbicos em 2017/18 para 53 milhões de metros cúbicos na atual. A fermentação melhorou e pegou outro ritmo. Cherubin aproveitou para anunciar que a empresa LNF está propagando leveduras personalizadas em maiores quantidades.
Para aumentar a produtividade de etanol diante de um mix mais alcooleiro, além da escolha das leveduras, Fernando Henrique Giometti destacou outros pontos para obter resultados desejados na indústria. Os preços do combustível são os mais sólidos dos últimos nove anos. A primeira medida importante é fazer o tratamento do caldo específico para etanol. Outro ponto associado ao aumento de produtividade é o teor alcoólico do vinho bruto. A escolha da levedura também é fundamental. A máxima velocidade de fermentação é possível com leveduras adaptadas ao ambiente fermentativo. Segundo Fernando Henrique, a diferença de produtividade entre o melhor cliente e a média dos clientes é de 30%, então há um grande potencial de crescimento.
Encerramento: professor Gretz marca presença pela segunda vez na Reunião Anual
O professor Gretz, um dos maiores palestrantes motivacionais do Brasil, esteve pela segunda vez na Reunião Anual. Sua primeira participação foi há dez anos, em 2008 “vejo que o recado que passei há dez anos está super atual. Por mais que a tecnologia tenha evoluído, por trás de tudo estão as pessoas. Ninguém motiva outra pessoa, é a pessoa que se motiva, mas para isso acontecer é preciso ter estímulos, como um elogio, o reconhecimento e, principalmente, o desafio”, afirmou o professor. Além disso, o entusiasmo é fundamental “o otimista acha que vai dar certo, o entusiasta tem certeza”, esclarece Gretz. Aqui neste encontro é possível ver a parceria entre a Fermentec, seus colaboradores e clientes. Por isso, é possível abrir as portas para a motivação.