A segunda edição do Webmeeting 43a Reunião Anual da Fermentec teve no centro das palestras e dos debates os princípios do conceito ESG com o tema Do Açúcar e Álcool a Sustentabilidade como Produto. Pelo segundo ano, a Reunião Anual, que chega à edição 43, é realizada de forma virtual devido à pandemia da COVID-19 e registra recorde de participantes: foram 1169 pessoas inscritas que participaram das três noites do evento.
Uma novidade desta segunda edição foi a transmissão pela plataforma da Strix One, uma comunidade com conteúdos relacionados ao setor sucroenergético do Brasil e do mundo. Os participantes puderam assistir aos vídeos da plataforma Strix e conferir todas as novidades. O Webmeeting também conta em todas as suas edições com uma revista digital, que apresenta toda a programação do evento e possui conteúdos relacionados às palestras.
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Veja um resumo do segundo Webmeeting Fermentec 43a Reunião Anual.
O presidente da Fermentec, Henrique Berbert de Amorim Neto, abriu o Webmeeting afirmando que o modelo ESG (ambiental, social e governança em português), que surgiu há mais de dez anos, veio para ficar. As metas de descarbonização de alguns países pressionam o mercado a investir cada vez mais em energias renováveis. Nessa nova realidade o etanol brasileiro se destaca sendo 90% menos poluente que a gasolina e os resíduos das usinas se transformam em bioprodutos. Agora, com o sucesso do RenovaBio, que é 100% ESG, a tendência do Brasil é voltar ainda mais as atenções para a energia limpa.
O presidente da Datagro, Plinio Nastari, mostrou a relevância do Brasil diante das exigências de redução da emissão de gases de efeito estufa, sendo o terceiro maior consumidor de combustíveis para transporte, mas que reúne as melhores condições para enfrentar o desafio de se obter maior eficiência energética com menor impacto ambiental. Na avalição baseada no critério do poço à roda, o etanol tem uma emissão muito mais baixa em relação ao veículo híbrido e elétrico, o que coloca o mercado brasileiro em vantagem, já que não exige uma nova estrutura com tecnologia nacional avançada. Portanto, é muito relevante o que o país já atingiu na mobilidade sustentável.
Risco climático é risco de investimento, diz Larry Fink, CEO do fundo de investimentos BlackRock. Esse foi um dos relevantes exemplos apresentados pelo professor Marc François Richter, da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul, que respondeu à pergunta ESG: o que tenho a ver com isso? São três critérios que permitem medir os impactos ambientais e sociais do investimento em uma empresa. A sustentabilidade já é parte integrante da construção de portfólios, de gestão de risco e está inclusive alterando o mercado de ações. O professor ressaltou que hoje há alguns investidores que se interessam em primeiro lugar pelas questões socioambientais de uma organização antes de qualquer outra coisa e que os princípios ESG evoluíram de uma obrigação legal para uma oportunidade de mercado.
Alexandre Godoy, da Fermentec, destacou que a Fermentec desenvolveu nos últimos dez anos tecnologias que vem ao encontro dos princípios ESG, bem antes desta sigla ser conhecida. Entre elas está o OLEOLEV, um bio-óleo produzido a partir da fermentação da vinhaça, que pode substituir o diesel na frota da usina e o óleo dos geradores. Em uma usina que mói dois milhões de toneladas de cana, o diesel verde pode representar 40% do consumo. Em uma destilaria autônoma pode chegar a 80%. Godoy também falou sobre o biogás produzido a partir da vinhaça, o StarchCane (etanol de milho) e o CELLEV que produz levedura seca e etanol de segunda geração a partir do bagaço. Cada tonelada de bagaço produz mais de 50 quilos de levedura seca. O preço de uma tonelada de levedura seca é cerca de 30 vezes o preço de uma tonelada de bagaço, agregando muito mais valor ao resíduo. A tecnologia pode ser usada com qualquer resíduo, como podas de árvores, palha de trigo, bagaço de malte, cavacos, entre outros.
Sérgio Ramos da Cruz, diretor da empresa Paques, mostrou diversas plantas pelo mundo que geram biogás por meio de diversos tipos de resíduos. Especificamente sobre a vinhaça, Cruz explicou como as bactérias convertem até 85% da matéria orgânica em biogás e o restante do efluente ainda pode ser utilizado em fertirrigação. Apesar desta tecnologia ainda enfrentar muitos desafios, seu potencial supera qualquer obstáculo. Se a vinhaça de todas as usinas do estado de São Paulo fosse convertida em biogás, a energia iria corresponder a 40% da geração da hidrelétrica de Itaipu. Ele ainda mostrou um futuro ainda mais promissor em que a tecnologia vai evoluir para a produção de bioplástico, que terá mais valor agregado do que o biogás.
Abrindo a segunda noite de palestras do Webmeeting Fermentec Reunião Anual, Otávio Tufi, do BENRI, apresentou o estudo de caso da destilaria Nova União, que fez uma verdadeira fábrica de adubo na planta. Desde 2017 a usina só eleva o aproveitamento de resíduos, um dos indicadores avaliado pelo BENRI para fazer o rating. Os adubos e corretivos químicos foram substituídos por fertilizantes orgânicos. Torta de filtro e cinzas na adubação começaram a ser usadas na adubação, MAP e fosfato reativo foram substituídos pela torta de filtro e também foi feito um plano de aplicação de vinhaça que aplica o efluente só onde há necessidade de potássio para evitar a saturação do solo. Essas foram algumas medidas que levaram a usina a chegar ao rating AAA. Todos os dados foram divulgados com autorização da destilaria Nova União.
Thierry Couto, do BENRI, destacou o papel do sucesso do RenovaBio para impulsionar o envolvimento das usinas com as boas práticas ambientais. Atualmente há 249 unidades certificadas e mais da metade delas apresenta uma nota superior à média do programa. Reduções ou substituições de insumos danosos ao meio ambiente aumentam as notas de eficiência energética gerando CBIOS, o que representa recursos no caixa na usina. O RenovaBio já dispõe de uma linha de crédito do BNDES específica para empresas que fazem parte do programa. No primeiro ano do programa o volume negociado de CBIOS foi de 1,1 bilhão de reais e em 2021 até o momento chegou a 600 milhões de reais. Tudo isso reforça a consolidação do programa RenovaBio.
Armando Gameiro Junior, Paulo Vilela e Eder Silvestrini falaram sobre o calcanhar de Aquiles de muitas unidades, a medição correta do rendimento geral da destilaria, RGD. Cerca de 40% dos clientes Fermentec têm dificuldade em medir algum componente relacionado ao RGD, seja medição de volumes, amostragem e perdas indeterminadas. Considerando o mix médio dos clientes de 52,56%, cada 1 ponto percentual de erro no RGD corresponde a 0,74 pontos percentuais na grandeza da perda indeterminada. O impacto é muito significativo. Por isso, na palestra foram apresentadas as fórmulas para se calcular corretamente o RGD e equipamentos para se fazer as medições e garantir a segurança.
Abrindo a última noite do Webmeeting, Eduardo Borges, da Fermentec, mostrou que, assim como os músicos de uma orquestra, o laboratório também deve estar em sintonia com os princípios ESG, mesmo não sendo um grande gerador de produtos poluentes e perigosos. Entre as boas práticas, Borges listou a redução do número de análises no laboratório (medir o que deve ser medido), eliminação do papel usando softwares de gerenciamento de informações, uso de equipamentos automáticos para reduzir consumo de reagentes e do NIR para gerar menos resíduos (NIR não usa reagentes). Atualmente, os recursos tecnológicos estão mais acessíveis, sendo facilitadores para a sustentabilidade no laboratório e, consequentemente, para a redução de custos.
Mário Lúcio Lopes, da Fermentec, mostrou como a elevação do teor alcoólico entre os clientes Fermentec contribui para a sustentabilidade na produção de biocombustíveis. Com a concentração da vinhaça, se reduz o consumo de vapor, se aumenta o raio de fertirrigação e se reduz o consumo de combustível para o transporte do subproduto ao campo. Tudo isso impacta também nos indicadores para receber CBIOS pelo RenovaBio. O Brasil está indo para novos patamares de teores alcoólicos, seja para etanol de cana ou milho. Algumas usinas já operam com mais de 12% de teor alcoólico, o que agrega não só para a redução no volume de vinhaça, mas também para aumento de produtividade.
Dinaílson Corrêa de Campos, da Fermentec, destacou que o mercado favorável ao açúcar naturalmente estimula as usinas a aumentarem a produção. O desafio é buscar o ponto de equilíbrio entre a necessidade de produzir o máximo possível e as características da matéria-prima para que a eficiência econômica não afete a eficiência técnica. A maior ou menor recuperação da fábrica vai depender, entre outras coisas, de parâmetros da qualidade da matéria prima, como pureza da cana, AR da cana (glicose e frutose), acidez da cana, dextrana/impureza mineral, impureza vegetal/amido e níveis de broca. Dinaílson apresentou dois cases que mostraram como esses parâmetros impactaram negativamente a produção das unidades. Por isso, a atenção a esses parâmetros é fundamental.
A tradicional palestra diferencial voltou e em grande estilo com o antropólogo, empresário e professor, Luiz Marins, um dos mais requisitados palestrantes do Brasil. Marins abriu a palestra questionando o que sustenta o futuro do Brasil. Entre os principais países emergentes, o Brasil além de não possuir as complexidades de Turquia, Indonésia, Índia e China, ainda é a grande potência da agricultura, tem uma matriz energética que chama atenção (biomassa, hídrica, fotovoltaica) e muita água. Por tudo isso, Marins afirma que o interesse dos investidores estrangeiros é crescente, assim como o otimismo das empresas brasileiras. O Brasil tem o mais valioso ativo ambiental no mundo, segundo a consultoria MCKinsey. Segundo o professor, as pessoas devem se unir na vontade, no foco e citou Padre Antônio Vieira para encerrar “uma união de pedras é edifício. Edifício sem união é ruína”.
Claudemir Bernardino, da Fermentec, encerrou mais uma edição do Webmeeting Reunião Anual lembrando que ESG existe desde a década de 80 e o setor já aderiu desde então. É um momento marcante para o setor que com tantos desafios demonstrou uma eficiência tremenda. Os benefícios ambientais devem estar na ponta da língua para valorizar o setor, para enaltecer o potencial do etanol na sustentabilidade. Mas para continuar evoluindo é preciso investimento e tecnologia, mantendo os propósitos entre empresas, academia e sociedade e a Fermentec na vanguarda. Esse é o desafio junto ao setor e aos clientes.
Prêmio Excelência
Assim como ocorre na Reunião Anual presencial, no Webmeeting as usinas que se destacam também são contempladas com o Prêmio Excelência Fermentec nas categorias amostragem, estrutura laboratorial, desempenho analítico químico, desempenho analítico microbiológico e pioneirismo. Confira os vencedores:
Categoria Amostragem
Flavio da Silva Costa, da Central Energética Morrinhos
Luis André de Souza, da Melhoramentos Norte do Paraná unidade Nova Londrina
Vagner Rogério Borges e Vastenil Eduardo Rodrigues, da Nardini Agroindustrial
Categoria Estrutura Laboratorial
Felipe Ribeiro da Silva, da usina Alta Mogiana
Evandro Oliveira Araújo, da usina Lins
Cristiane Lopes dos Santos e Ana Flávia Alves Oliveira, da Adecoagro unidade Ivinhema
Categoria Desempenho Analítico Químico
Tiago Masson da Cunha, da usina Colorado
Claudinei D. Martinez Aguila, da usina Batatais
Luciana Galindo Domingos e Luis Fernando Ribeiro, da Alto Alegre unidade Floresta
Categoria Desempenho Analítico Microbiológico
Eliane Barivieira, da Ipiranga Agroindustrial unidade Iacanga
Joel Cebalho Pinheiro, da Novo Milênio unidade Mirassol D’Oeste
Joice Bruna da Silva, Suyana Ayres Silva e Wannessa Divina Fantini, da Jalles Machado unidade Otávio Lage
Categoria Pioneirismo
Na categoria Pioneirismo a usina Pedra Agroindustrial foi uma das homenageadas pelo Prêmio Excelência Fermentec com a utilização do GAOA, módulo etanol. Danilo Alves Maritan foi o representante da usina na premiação.
Categoria Pioneirismo
A implantação do GAOA, módulo etanol, fez a usina São Martinho, unidade Santa Cruz, vencer na categoria Pioneirismo do Prêmio Excelência Fermentec. Eduardo Alexandre Almeida foi o representante da usina na premiação.
Categoria Pioneirismo
Rafael Soccol Dambros e Gabriel Mochidome Mundim receberam o Prêmio Excelência Fermentec na categoria Pioneirismo pela CJ Selecta pelo início da operação da fermentação com melaço de soja para produção de etanol.